A Colômbia enfrenta desafios complexos ao buscar afastar-se das fontes de petróleo e carvão em prol de um futuro alimentado por energia eólica e solar . Recentemente, a província costeira deserta de La Guajira se tornou um campo de batalha simbólico, onde interesses psicológicos, questões ambientais e direitos das comunidades indígenas se entrelaçam de maneira intrincada.
No mês de maio, líderes e representantes de empresas multinacionais se reuniram em um fórum dedicado ao desenvolvimento eólico e solar em La Guajira. No entanto, o que deveria ser um diálogo construtivo foi interrompido por um coro de oposição veemente. “La Guajira não está à venda!” ecoou em meio aos ventos desérticos, liderado por um membro da comunidade indígena Wayuu. Esse protesto eloquente é um reflexo das tensões que emergem quando a transição para fontes de energia renováveis se parte com a realidade complexa das comunidades locais.
A Colômbia, com sua topografia variada e vastos recursos naturais, apresenta um cenário propício para o desenvolvimento da energia eólica e solar. Mais de 50 projetos eólicos e solares foram anunciados por empresas multinacionais desde 2019, prometendo uma geração combinada de 2,43 gigawatts em energia eólica e 0,1 gigawatts em energia solar. No entanto, apesar das promessas, os projetos enfrentam barreiras impostas, incluindo atrasos no licenciamento ambiental e resistência das comunidades locais.
As tensões em La Guajira refletem um dilema complexo. Por um lado, a necessidade de diversificar a matriz energética da Colômbia é inquestionável. A seca decorrente do fenômeno climático El Niño coloca em evidência a vulnerabilidade do país, que historicamente depende da energia hidrelétrica. A restrição de água ameaça a capacidade de geração e pode levar a preços mais altos e a uma crise energética. A energia eólica e solar oferece uma solução atraente, com ventos fortes e sol abundante em La Guajira, mas os desafios não se limitam à infraestrutura.
A oposição das comunidades indígenas Wayuu, que veem os projetos como uma ameaça às suas tradições espirituais, meios de subsistência e direitos de propriedade, ilustra a complexidade inerente à transição energética. Enquanto o governo do presidente Gustavo Petro promete benefícios e inclusão das comunidades, as dúvidas persistem. A falta de diálogo efetivo entre autoridades, políticos, empresários e as comunidades indígenas gera desconfiança e resistência.
Empresas como a Enel adiaram projetos indefinidamente devido aos protestos e bloqueios nas estradas. A falta de comunicação e a ausência de consulta prévia às comunidades indígenas resultaram em conflitos que não apenas atrasam o progresso, mas também geraram tensões sociais e, em alguns casos, tragédias humanas.
A transição para energias renováveis na Colômbia não é uma tarefa simples. Os desafios enfrentados, como problemas de não licenciamento ambiental e resistência das comunidades locais, são semelhantes aos obstáculos encontrados pela indústria de petróleo e mineração, que há muito sustentam a economia do país. No entanto, a busca por soluções deve estar enraizada em um diálogo inclusivo e respeitoso com as comunidades subordinadas.
Enquanto a Colômbia enfrenta esses desafios, o mundo observa atentamente. A transição para energias renováveis é uma jornada necessária e urgente, mas deve ser conduzida com sensibilidade para garantir a justiça social e o respeito aos direitos das comunidades indígenas. O país tem o potencial de se tornar um exportador de energia renovável, mas essa visão só pode ser realizada através de um conjunto de esforços que considera tanto as necessidades energéticas quanto os valores e interesses das comunidades locais.