O atual presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, venceu as eleições presidenciais realizadas no último domingo, 28, ampliando sua hegemonia no país por mais cinco anos. Com 99,66% das urnas apuradas até o momento desta reportagem, Erdogan conquistou 52,13% dos votos, enquanto seu adversário, o líder da oposição Kemal Kilcdaroglu, alcançou 47,87% dos votos. Em seu discurso para apoiadores, antes mesmo da oficialização do resultado, o chefe de Estado turco prometeu cumprir “todas as promessas” e criticou seus opositores, afirmando que “ninguém pode atacar as conquistas desta nação”.
Especialistas apontam que o novo mandato do autocrata Erdogan deve resultar em um endurecimento do regime. Desde que mudou o sistema de governo da Turquia, saindo do parlamentarismo para o presidencialismo, ele tem sido visto como um “grande autocrata”, diminuindo a independência das instituições, perseguindo jornalistas, militares, adversários políticos e professores.
Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), afirma que, embora no início seu governo parecesse promissor, acabou se transformando em uma autocracia. Christopher Mendonça, cientista político e professor de relações internacionais do Ibmec Belo Horizonte, destaca que o fundador do Partido da Justiça e Desenvolvimento representa parte da extrema-direita, com ligações a grupos religiosos e a ideia de que religião e costumes são importantes nas decisões políticas.
Kemal Kilcdaroglu, opositor de Erdogan, chegou a ser considerado favorito às vésperas do primeiro turno, mas perdeu impulso no final e entrou no último dia de eleição como azarão. O resultado já era esperado após o conservador Erdogan, de 69 anos, superar as pesquisas, liderar o pleito realizado em 14 de maio e receber o apoio do terceiro colocado, o ultranacionalista Sinan Ogan, na última semana da campanha eleitoral. A reeleição de Erdogan indica um endurecimento do regime na Turquia.
No seu novo mandato, Erdogan enfrentará um país mais dividido, uma vez que esta foi a eleição mais difícil que ele já enfrentou, sendo a primeira em que a oposição se aproximou da vitória. Entre os principais desafios estão a crise econômica, a questão dos refugiados e a divisão entre os blocos do Ocidente (liderado pelos Estados Unidos e apoiado pela União Europeia) e do Oriente (com a China como centro e a Rússia como apoiadora). Márico Schettino, professor de relações internacionais da UFMG e do Ibmec, alerta que qualquer decisão tomada em Ancara em relação aos refugiados afeta diretamente a União Europeia, uma vez que a Turquia abriga o maior número de refugiados no mundo, cerca de 3,7 milhões, além de impedir que pessoas vítimas de tráfico sigam para a Europa. Schettino também destaca que a vitória de Erdogan levará o país a buscar uma maior centralização de poder nas mãos do atual chefe de Estado, uma postura mais autônoma em questões internacionais, e uma maior proximidade com Rússia e China.