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Talibã comemora dois anos de retomada ao poder

Nesta terça-feira, o Talibã do Afeganistão celebrou o segundo aniversário de sua retomada ao poder, marcando o dia em que as forças estrangeiras lideradas pelos Estados Unidos se retiraram do país após duas décadas de guerra inconclusiva. A tomada de Cabul em 15 de agosto de 2021 representou um momento crucial na história afegã, abrindo caminho para o estabelecimento de um sistema islâmico e, de acordo com a porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, uma “segurança” que não se via há décadas.

No entanto, enquanto o grupo insurgente comemora sua conquista, o panorama dentro do Afeganistão permanece complexo e repleto de desafios. Dois anos após o retorno do Talibã, é importante avaliar os impactos dessa mudança no cenário político, social e econômico do país.

A promulgação do sistema islâmico pelo Talibã trouxe à tona um paradoxo notável: embora eles afirmem oferecer uma “segurança” há muito ausente, a realidade é marcada por conflitos e instabilidade. A Organização das Nações Unidas (ONU) relata que dezenas de ataques contra civis ocorreram desde a ascensão do Talibã, muitos dos quais foram reivindicados por grupos rivais, como o Estado Islâmico do Talibã.

Enquanto os combatentes do Talibã e seus simpatizantes celebram nas ruas, a vida de muitas mulheres afegãs mudou drasticamente desde a retomada do grupo ao poder. Após duas décadas de progressos no que tange aos direitos e liberdades das mulheres, o retorno do Talibã trouxe diversas restrições, limitando o acesso à educação e restringindo a participação das mulheres na vida pública. A vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, expressou em um comunicado que “o retorno do Talibã mudou a vida de mulheres e meninas afegãs, seus direitos e futuro”.

O ressurgimento do Talibã também teve engenharia para a mídia e a sociedade civil. O jornalismo, que floresceu durante as duas décadas de governo apoiado pelo Ocidente, foi reprimido de forma significativa. Detenções de jornalistas e ativistas da sociedade civil têm levantado preocupações entre grupos de direitos humanos. O grupo insurgente afirmou que suas agências de segurança estão investigando atividades suspeitas, mas detalhes sobre essas questões remanescentes.

Apesar dos desafios persistentes, há também pontos positivos a serem considerados. Observa-se uma redução na corrupção que havia aumentado consideravelmente após a deposição do Talibã em 2001, conforme relatado pelo representante especial da ONU. Além disso, a segurança do cultivo de narcóticos pelo grupo parece ter impactado positivamente a produção de ópio, que por anos representou uma das fontes de financiamento do Talibã.

O futuro do Afeganistão permanece incerto. Enquanto o Talibã busca o reconhecimento internacional e o levantamento de sustentação, a população afegã enfrenta dificuldades e resistências crescentes. A queda na ajuda ao desenvolvimento resultou em uma diminuição das oportunidades de emprego, e a ONU estima que mais de dois terços da população precisam de ajuda humanitária para sobreviver.

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