A passagem fronteiriça de Malanville, situada no norte do Benin, há tempos é reconhecida como um importante ponto de trânsito na África Ocidental. Nesse cenário, os tráfegos carregados de alimentos, ajuda humanitária e insumos industriais são fluidos com regularidade para o vizinho Níger, uma nação que figura entre as mais pobres do globo.
Contudo, essa atividade vital se encontra atualmente paralisada, pintando um quadro impactante e inquietante. Uma fila extensa, com milhares de caminhões, serpenteava por aproximadamente 25 quilômetros, alcançando as margens lamacentas do rio Níger, que delineava a fronteira entre os dois países. Os motoristas, que estão retidos há semanas, improvisaram varais entre os veículos para secar suas roupas, enquanto pequenos empreendedores, escapando do escrutínio dos agentes fronteiriços, transportaram mercadorias em frágeis barcos de madeira através do rio, castigados pelas chuvas.
Esta situação caótica é um testemunho vívido dos efeitos das diversas avaliações impostas pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) ao Níger, em resposta ao golpe militar ocorrido em 26 de Julho. O propósito subjacente a essas avaliações é claro: forçar a junta governante a reinstaurar o presidente Mohamed Bazoum, que foi deposto. Entretanto, os resultados têm sido uma série de consequências desestabilizadoras.
A principal manifestação desses efeitos adversos reside no aumento dos preços dos alimentos durante um período de já existente no Níger. A indústria também foi prejudicada e há ameaças iminentes de uma escassez de suprimentos médicos, alertam diversas agências humanitárias, funcionários e residentes locais.
Num contexto onde caminhoneiros como Soulemane, um nigerino com carga de açúcar e petróleo, ficam encurralados na fronteira por mais de 20 dias, a incerteza sobre a incerteza. “Não sabemos se fomos feitos reféns ou o quê”, desabafa ele, expressando a angústia compartilhada por muitos outros.
Surpreendentemente, a popularidade da junta militar ainda parece relativamente intacta, apesar das avaliações. Uma manifestação de apoio ao golpe ocorreu recentemente, trazendo às ruas milhares de pessoas, algumas delas empunhando cartazes anti-CEDEAO. Tal dinâmica ecoa eventos semelhantes no Mali, onde a população também pareceu apoiar os líderes militares após a imposição de avaliações pela CEDEAO nos anos de 2020 e 2021.
A crise alimentar que se deseja como resultado dessas avaliações é profundamente alarmante. Cerca de 6.000 toneladas de suprimentos do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas encontram-se retidos, incluindo itens essenciais como cereais, óleo de cozinha e alimentos para crianças desnutridas. A região já enfrentava uma crise de fome antes mesmo desses eventos, com uma insurgência islâmica deslocando centenas de milhares de pessoas de suas casas. O aumento dos preços do arroz e sorgo, 21% e 14% respectivamente desde as avaliações, apenas agravou a situação.
O Programa Alimentar Mundial e a UNICEF destacam a urgência da situação, alertando que o tempo para ação está se esgotando. Milhões de pessoas estão à beira da fome, e as negociações logísticas podem ter impactos devastadores em um país com altas taxas de mortalidade infantil.
Enquanto a CEDEAO e a junta militar permanecem em impasse, as consequências desumanas dessas avaliações tornam-se cada vez mais claras. À medida que os líderes políticos discutem e as negociações prosseguem, são as vidas dos cidadãos nigerinos que pendem na balança. A esperança é que uma solução seja encontrada antes que uma catástrofe humanitária se agrave ainda mais.