Na manhã desta terça-feira (12), Dario Alencar Pereira, ex-diretor administrativo e jurídico da Otrantur, empresa que até o ano passado gerenciava o transporte coletivo municipal em São Vicente, foi preso preventivamente, juntamente com Márcio Roberto de Souza Costa.
Ambos são acusados de atuar como operadores financeiros para lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC).
As prisões ocorreram no contexto da Operação Sharks, que visa desmantelar as atividades financeiras ilegais da organização criminosa.
Dario Alencar Pereira, de 34 anos, foi detido na Vila Caiçara, em Praia Grande, sob suspeita de envolvimento na lavagem e ocultação de recursos provenientes de atividades corruptas.
As autoridades alegam que ele participou de um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou aproximadamente R$ 100 milhões desde 2020, oriundos do tráfico de drogas.
Tanto Dário Alencar Pereira quanto Márcio Roberto de Souza Costa são suspeitos de fazerem parte de um núcleo ligado a dois dos principais líderes da facção criminosa, Odair Lopes Mazzi Junior, conhecido como “Dezinho”, e Marcos Roberto de Almeida, também conhecido como “Tuta”.
Dezinho foi preso em julho, enquanto Tuta permanece foragido.
A operação também resultou na execução de 22 mandados de busca e apreensão em São Paulo e quatro na Bahia.
Durante as buscas, foram confiscados celulares, computadores, documentos, além de 35 relógios e cerca de R$ 85 mil em quatro moedas diferentes.
Uma das residências investigadas foi a casa de Carolina Mazzi, esposa de Dezinho, localizada em Alphaville, um bairro nobre na região metropolitana de São Paulo.
O promotor Lincoln Gakiya estimou que o valor das joias e relógios apreendidos chegue a R$ 2 milhões.
Durante o cumprimento de um dos mandados de busca, um terceiro suspeito, cuja identidade não foi revelada, foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo.
A operação, conduzida pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), contou com o apoio de 108 policiais militares da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar).
Segundo Gakiya, a Promotoria identificou indícios de que essas lideranças teriam desviado dinheiro da facção para manter um estilo de vida luxuoso fora dos presídios.
“Eles saíram do sistema prisional paulista praticamente sem recursos e hoje têm um patrimônio considerável.
Realizavam viagens internacionais, usavam jatinhos particulares e helicópteros, tudo isso financiado por essa organização criminosa”, destacou o promotor.
Ele acrescentou que o contraste entre o padrão de vida das lideranças e dos demais membros da facção tem gerado revolta no sistema prisional.
A Promotoria anunciou que planeja apresentar uma denúncia à Justiça nas próximas semanas e solicitar o bloqueio de contas bancárias, o sequestro de bens, incluindo imóveis, e a suspensão de empresas utilizadas pelos operadores financeiros para lavagem de dinheiro.
Gakiya explicou que algumas dessas empresas estão relacionadas ao ramo de estética, o que é comum entre familiares de líderes da facção.
De acordo com a investigação, os suspeitos utilizavam criptomoedas e contas em bancos digitais para movimentar o dinheiro ilícito, a fim de reduzir os rastros financeiros, inclusive para o exterior.
Outras pessoas ligadas ao grupo, incluindo familiares de Dezinho e Tuta, também são suspeitas de fazer parte desse esquema.
“A maior parte do dinheiro do tráfico internacional segue diretamente da Europa para a Bolívia e o Paraguai, sem passar pelo sistema financeiro formal.
Nossa dificuldade atual nas ações de asfixia financeira é justamente rastrear esses recursos no exterior”, explicou Gakiya.
A operação desta terça-feira é um desdobramento da Operação Sharks, que em 2020 identificou o envio de R$ 1,2 bilhão da associação criminosa para o Paraguai a partir do núcleo liderado por Dezinho e Tuta.
Ambos tiveram prisão decretada naquela época.
Dezinho, apontado como membro da cúpula da facção, foi preso em julho enquanto estava em um resort de luxo no litoral de Pernambuco.
Atualmente, ele está detido no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista, aguardando transferência para o presídio de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo.
Atualmente, o PCC concentra sua atividade principal no tráfico internacional de cocaína, que é exportada para a Europa, principalmente por via marítima. Segundo Gakiya, 60% de toda a cocaína apreendida na Europa tem origem no Porto de Santos.