O Banco Central da Turquia anunciou no último domingo uma série de mudanças significativas em sua política monetária, sinalizando uma nova abordagem em relação às medidas de proteção cambial e ao sistema de contas KKM (Koruma Kira Mekanizması), que buscavam conter a depreciação da lira turca . Essa ação, marcada por uma inversão das políticas adotadas anteriormente, reflete um movimento em direção às medidas mais ortodoxas, após um período de aumentos nas taxas de juros.
Segundo o comunicado emitido pelo banco central, as metas anteriormente contrárias aos bancos em relação à conversão de depósitos em moeda estrangeira para contas KKM foram suspensas. A instituição agora pretende que os credores estabeleçam uma nova meta de transição das contas KKM para contas regulares em liras. Esta mudança tem por objetivo dissuadir empresas e indivíduos de renovar suas contas KKM, direcionando-os para o uso de contas tradicionais em liras.
Paralelamente, o banco central também aumentou os índices de compulsório dos créditos para depósitos em moeda estrangeira, incentivando os clientes a migrar para contas denominadas em liras. Isso ocorre em consonância com o compromisso do governo do presidente Tayyip Erdogan de promover uma política econômica mais estável e equilibrada.
A implantação do esquema KKM em 2021 foi uma resposta do governo à queda acentuada da lira turca, ocasionada por medidas pouco convencionais, como a redução das taxas de juros, em meio a um cenário de crescimento. A moeda local sofreu uma desvalorização de cerca de 68% nos últimos dois anos, levando a uma destaque das contas KKM, que atingiram um total de aproximadamente US$ 117 bilhões, ou 3,1 trilhões de liras, representando cerca de um quarto dos depósitos totais bancários.
O custo da depreciação do esquema KKM tem sido substancial, levando o banco central a desembolsar cerca de 300 bilhões de liras (equivalente a US$ 11 bilhões) em junho e julho deste ano para cobrir as perdas. Estima-se que os custos deste mês alcancem 350 bilhões de liras. Em um esforço para conter esses custos e fortalecer a estabilidade macrofinanceira, o banco central adotou a medida de transição das contas KKM para contas regulares em liras.
A permanência recente da lira turca, que fechou a semana passada em 27,02 por dólar após um período de volatilidade, sugere que as medidas adotadas estão seguras para conter a depreciação da moeda. Isso se soma às reformas aceleradas toleradas após a reeleição do presidente Erdogan, que incluiu aumentos de juros substanciais e promessa de redução de regulamentações para combater a tolerância e equilibrar o déficit comercial.
Hakan Kara, ex-economista-chefe do banco central e atualmente professor na Universidade de Bilkent, analisa as mudanças como uma estratégia que visa “matar dois coelhos com uma cajadada só”, combinando o aumento das taxas de depósito com a restrição das contas KKM . Kara observa que as taxas de juros oficiais poderiam ter sido aumentadas sem a necessidade de abordar questões tão complexas.