Centenas de milhares de israelenses saíram às ruas no último sábado (11/3) para protestar contra os planos do governo de reformar o Poder Judiciário, o que é visto por críticos como um golpe sem precedentes à democracia de Israel. Esse foi o décimo fim de semana consecutivo de manifestações, e foi o que teve o maior número de participantes na história do país, com até 500 mil pessoas em várias cidades, principalmente em Tel Aviv.
A reforma judicial foi parcialmente aprovada em primeira fase pelo Parlamento (Knesset) de Israel no final de fevereiro, e o governo planeja avançar com as votações nesta semana. O premiê Benjamin Netanyahu defende que as mudanças impediriam que as Cortes judiciais extrapolassem seu poder e restaurariam o equilíbrio entre o Parlamento e a Justiça.
No entanto, alguns dos pontos mais polêmicos propõem dar ao governo influência decisiva sobre a escolha de juízes, além de impedir que a Suprema Corte do país revise leis aprovadas pelo Parlamento. Essa medida é considerada particularmente controversa por causa do sistema político de Israel, que não tem uma Constituição formal e usa leis básicas para definir o papel das instituições e Poderes.
Para muitos analistas, a aprovação das mudanças faria do Judiciário um órgão político e poderia levar a um governo autoritário, sem garantias democráticas. Alguns reservistas, que são a espinha dorsal do Exército israelense, têm ameaçado se recusar a servir o país como forma de protesto. Até mesmo pilotos reservistas de um esquadrão de elite da Força Aérea do país disseram que não se apresentariam para treinar.
A reforma judicial é uma das principais apostas do governo Netanyahu, em uma coalizão com partidos ultraortodoxos e de extrema-direita que assumiu o poder em dezembro. O governo vem se mantendo firme na defesa da reforma, afirmando que os protestos têm sido alimentados pela oposição. Para entrar em vigor, cada uma das leis propostas no pacote precisa passar por três votações. A mera possibilidade de as mudanças se concretizarem já tem causado grandes divisões na sociedade israelense.