A menopausa precoce, um fenômeno em que as mulheres interrompem completamente a menstruação antes dos 40 anos, é um problema de saúde que merece atenção. Embora a idade média da menopausa no Brasil seja entre 50 e 51 anos, algumas mulheres enfrentam essa transição mais cedo devido a fatores genéticos, doenças pré-existentes, procedimentos cirúrgicos ou, em muitos casos, por razões desconhecidas. Essa condição é conhecida como insuficiência ovariana prematura (IOP) e requer cuidados específicos.
Quando os ovários deixam de funcionar, o organismo é privado da ação do estrogênio, o principal hormônio feminino. Isso aumenta o risco de problemas ósseos, cardiovasculares e afeta a fertilidade. A presidente da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina da Febrasgo, a ginecologista Cristina Laguna, ressalta que quanto mais cedo os ovários param de funcionar, maior é a probabilidade de a pessoa desenvolver doenças que comprometem sua qualidade de vida e expectativa de longevidade.
É importante diferenciar a menopausa precoce da insuficiência ovariana prematura. A menopausa precoce ocorre entre os 40 e os 50 anos, enquanto a IOP é caracterizada pelo cessamento do sangramento ainda mais cedo. A denominação “menopausa precoce” para a IOP não é adequada, segundo a ginecologista, pois a menopausa está associada a um processo natural de envelhecimento e não é fisiológico que os ovários deixem de funcionar antes dos 40 anos.
Estudos recentes indicam que a insuficiência ovariana prematura afeta aproximadamente 3,7% das mulheres, número superior às estimativas anteriores de 1%. Esse aumento pode ser atribuído à maior divulgação do problema e ao aprimoramento dos tratamentos contra o câncer. Muitas pacientes jovens que passaram por quimioterapia e radioterapia, por exemplo, acabaram desenvolvendo IOP.
As causas da menopausa precoce e da insuficiência ovariana prematura são semelhantes. Basicamente, qualquer fator que danifique os ovários ou impeça a produção de estrogênio pelo corpo pode levar a essas condições. Alguns dos principais gatilhos identificados pela Dra. Cristina Laguna são fatores genéticos, doenças autoimunes, procedimentos cirúrgicos de remoção do útero e dos ovários, tratamentos de rádio e quimioterapia, além da exposição a agentes físicos e infecciosos, como infecções virais, tabagismo excessivo e pesticidas. No entanto, cerca de 60% dos casos ainda não têm uma causa identificada, sendo que algumas mulheres nascem com uma reserva folicular reduzida ou gastam seus folículos prematuramente.
O tratamento da menopausa precoce e da insuficiência ovariana prematura é baseado na terapia de reposição hormonal. No entanto, na IOP, as doses administradas são mais altas e adaptadas às características das pacientes jovens. O objetivo da terapia é restabelecer os níveis adequados de hormônios, principalmente o estrogênio, que desempenha papéis cruciais no desenvolvimento dos órgãos reprodutivos durante a puberdade e na prevenção da osteoporose.
A falta de estrogênio também pode estar associada a alterações de humor, depressão, ansiedade, diminuição da capacidade cognitiva, distúrbios do sono e maior propensão à demência, como indicam estudos. A ginecologista ressalta que o estrogênio é um hormônio vital para o organismo feminino, não apenas para a reprodução, mas também para diversas funções. Quanto mais precoce for a perda da função ovariana, maior será o risco para a saúde da mulher.
A reposição de progesterona é necessária para mulheres que ainda possuem útero, a fim de protegê-las contra o câncer de endométrio. No caso de mulheres com histórico de endometriose, a progesterona também ajuda a evitar o reaparecimento da doença.
Além da terapia hormonal, orientações sobre hábitos saudáveis, como não fumar, seguir uma alimentação equilibrada, evitar ganho de peso e praticar atividade física, são essenciais no tratamento. O suporte psicológico também desempenha um papel fundamental para ajudar a pessoa a lidar com os desafios emocionais que acompanham o diagnóstico.
A menopausa precoce e a insuficiência ovariana prematura são questões que requerem atenção médica e conscientização. Com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, é possível ajudar as mulheres afetadas a enfrentar os desafios e buscar qualidade de vida.