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Livro inédito expõe a realidade dos abusos cometidos por padres católicos no Brasil

Desde o ano de 2001, mais de cem padres católicos no Brasil foram acusados de abuso sexual contra menores de idade, revela um novo livro que apresenta um levantamento inédito sobre o assunto. Ao longo das últimas duas décadas, a Justiça condenou 60 sacerdotes por cometerem esses crimes contra crianças e adolescentes.

A Igreja Católica tem enfrentado uma série de escândalos de abuso sexual envolvendo membros do clero em todo o mundo. Após os impactantes relatos do time Spotlight, do jornal “The Boston Globe”, que expuseram não apenas os abusos cometidos por religiosos, mas também o encobrimento desses crimes pela Igreja, casos de pedofilia por parte de padres vieram à tona em diversos países, um após o outro. No entanto, o maior país católico do mundo, o Brasil, vivia em silêncio em relação a grande parte dessas histórias de abuso.

Ao contrário do resto do mundo, as notícias sobre vítimas brasileiras surgiram de maneira esparsa. Nos últimos anos, países como Alemanha, Argentina, Austrália, Chile, México, Espanha, Irlanda, Portugal, Itália, França e Canadá tiveram sacerdotes expostos por abusar de menores, em relatórios produzidos por jornalistas, comissões independentes e solicitação da própria Igreja.

O livro “Pedofilia na Igreja – um dossiê inédito sobre casos de abusos envolvendo padres católicos no Brasil” (Máquina de Livros, 2023) reúne pela primeira vez os crimes sexuais cometidos por religiosos contra menores de idade no país. Após três anos de trabalho, foram documentados casos envolvendo 108 sacerdotes acusados de abusar de pelo menos 148 crianças e adolescentes, dos quais 60 foram condenados.

Os abusos descritos no livro revelam práticas criminosas de sacerdotes pertencentes a 80 dioceses e arquidioceses, em 23 estados brasileiros e no Distrito Federal. Entre os acusados, estão padres, monsenhores, bispos, arcebispos e até mesmo uma freira. Os abusos foram cometidos tanto por padres diocesanos, que não pertencem a uma ordem religiosa específica, quanto por membros de ordens como franciscanos, salesianos, beneditinos e jesuítas, entre outros.

O Brasil possui cerca de 10% dos 1,3 bilhão de católicos do mundo, de acordo com o Censo de 2010, e a estrutura da Igreja Católica no país é vasta, contando com mais de 27 mil sacerdotes atuando em 111 mil igrejas. No entanto, as denúncias contra clérigos têm sido difusas e desorganizadas.

Os crimes listados na reportagem ocorreram em 96 cidades de todas as regiões do país, desde grandes metrópoles como São Paulo até pequenos municípios como Ichu, na Bahia, que possui pouco mais de seis mil habitantes. No entanto, uma tendência observada no levantamento é que os padres costumam agir com maior frequência em cidades com menos de 100 mil habitantes. Nestas cidades foram registrados 48 dos 108 casos encontrados.

A luta contra os abusos sexuais cometidos por sacerdotes católicos ganhou impulso a partir de março de 2013, com a eleição do Papa Francisco. O Papa, assumindo a questão da pedofilia como central em seu pontificado, adotou um discurso forte e fortaleceu a legislação católica contra os abusadores dentro do clero. No entanto, apesar das mudanças implementadas, as denúncias mais graves ainda têm vindo de fora da Igreja.

Apesar dos esforços do Vaticano em expor os sacerdotes abusadores e seus crimes, a rede de proteção às vítimas ainda aguarda resultados práticos dessas mudanças. A exposição dos abusos é vista pelas vítimas como um meio de evitar a repetição desses crimes no futuro.

Um exemplo disso é o depoimento de um rapaz que, aos 11 anos de idade, foi vítima de abuso pelo padre franciscano Paulo Back, em 2012. Ele afirma não se arrepender de ter denunciado o caso, pois acredita que, do contrário, o padre estaria continuando a cometer os mesmos abusos, inclusive com outras crianças.

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